Perdido em Luziânia

Author: Mateus Marques / Marcadores: , ,

Mais um dia de aula normal para Pedro, um menino inteligente e dorminhoco, e para toda a classe, mas com um detalhe: Era o último horário antes de todos irem para casa aproveitar o final de semana, afinal, era Sexta-feira.
- Ei! Pedro! Acorde! Não queira dormir na aula do professor Fernando. Sabe como ele fica bravo com isso.
- Não só com isso, Bruno, mas praticamente com tudo o que fazemos na sala.
- Afinal, porque você não está aguentando assistir à aula do Fernando? O que vai fazer de tão importante assim, menino?
- Vou para a sua casa, ora!
- Ah é! Ja ia me esquecendo... Duvidou Pedro.
- Ei vocês! Parem de conversar ou a turma inteira está de castigo!!! - Vociferou o professor Fernando.
- Desculpa, professor, é que eu estava conversando algo importante com Pedro - Explicou Bruno.
- Não desculpo não. Já é a quinta vez que chamo a atenção de vocês hoje, portanto, a turma ficará aqui comigo até o sinal tocar.
Todos os alunos da turma ficaram com raiva deles dois por terem os deixado de castigo. Mas o que importa agora? Não podem mais sair da sala mesmo...
- TRIIIM!!! - O sinal da escola toca.
- Nossa! Cinco segundos de castigo, muito cruel! Ironizou Pedro.
Todas as pessoas da escola, inclusive os professores, sairam correndo das salas de aula para poder aproveitar o começo do fim de semana, afinal dois dias sem aula e sem trabalhar são motivos de imensa alegria para os alunos e professores.
Pedro havia combinado com Bruno, seu melhor amigo, de passar o fim de semana em sua casa, mas antes, ligaram para os pais e eles aceitaram. Porém, haviam dois problemas: Os pais de Pedro não tinham carro, e os pais de Bruno haviam saído para trabalhar com ele. Então, só havia um jeito:Ir de ônibus.
Como planejado, os dois foram para a rodoviária do Gama, lugar onde moram e ficaram esperando um ônibus que fosse para o Cruzeiro, lugar onde Bruno mora.
Ao chegarem lá, ficaram esperando por vinte minutos algum ônibus sentados em um banco perto da rodoviária. Bruno observa que um ônibus acaba de chegar com um letreiro escrito "expresso". Ele e Pedro pensaram juntos: - O que um ônibus expresso faria aqui à uma hora da tarde em plena sexta-feira?
Sem dar importância para a situação, perguntaram o local de destino do ônibus.
- Esse vai para o Cruzeiro e depois segue direto para Luziânia, sem parada alguma. - Respondeu o motorista.
- Podemos entrar, então?
- Não leram o letreiro? Ele é EX-PRES-SO. Somente pessoal autorizado. Nada de aborrecentes!
- Acalme-se. Não somo aborrecentes. Somos ADOLESCENTES.
- Interrompeu Bruno:
- Por favor, senhor, deixe-nos ir... A minha mãe está me esperando lá em casa. Meu pai voltou da Marinha hoje e veio me ver... Por favor...
- Está bem, está bem. Entrem no ônibus.
Em voz baixa, comentou com Pedro:
- Viu? É assim que se faz!
- Nem um pouco convencido, Bruno?
Ao entrarem no ônibus, Pedro interrompe novamente Bruno e diz que está com sono. Ele não gosta nem um pouco.
- Vou cochilar um pouco ali no banco, quando o ônibus estiver saindo você me acorda, ?
- Fazer o quê...
Dentro do ônibus, Bruno ficou pensando sobre Pedro. O quanto ele era infantil, além de ser mais velho que ele. O menino dorminhoco tinha 14 anos, moreno e cabelo curto. Já Bruno, tinha 13, branco, cabelos loiros e compridos.
Cinco minutos depois dessa situação, Pedro acorda com a agitação de muitas pessoas movendo-se em direção ao ônibus que ele irá. Sem pensar duas vezes, corre em direção à ele e entra antes de todas aquelas pessoas.
Desde então, o dorminhoco não pára de pestanejar. Olha para os lados, mas não vê Bruno. Não se preocupou, pois sabia que estava no mesmo veículo que seu amigo. Imagina que quando chegarem ao Cruzeiro, Bruno o acordará. Então, dorme novamente.
Finalmente, o ônibus chega ao Cruzeiro e Bruno percebe que a maioria das pessoas que estão no ônibus estão descendo, então pensa:
- Do jeito que o Pedro é, já deve estar lá na frente, caminhando para a minha casa.
Sai do ônibus e segue as pessoas. Ao caminhar, percebe um menino moreno correndo em direção às casas que ficam próximas á rodoviária.
- Só pode ser Pedro, pensa Bruno.
Sai correndo atrás dele para avisa-lo que sua casa não fica naquela direção, mas sim, no lado contrário.
- Pedro! Pedro! Minha casa não fica por aí criatura! Mas que menino apressado!
Corre em direção ao menino. Quando chega perto dele, agarra-o pelos braços e chama a atenção dele:
- Ô menino, minha casa não fica por aí não!
- Me solta rapaz! Quem você pensa que eu sou?
Para o espanto de Bruno, não é seu amigo, e sim um outro menino muito parecido com ele.
- Desculpa, foi engano. Jurava que você era um amigo meu!
- Mas não sou. Com licença! Respondeu ignorantemente o menino e voltou a correr.
Diante dessa situação, pensou:
- Se ele não é o Pedro, e não o vi perto de todas aquelas pessoas que saíram do ônibus, ele só pode estar dentro dele ainda!!!
E realmente estava. Pedro permaneceu no ônibus até chegar em Luziânia-GO. Somente acordou quando o cobrador do ônibus o cutucou:
- Ei rapaz, já chegamos. Todos já foram, menos você.
- Obrigado moço. Nossa, o Bruno nem me acordou...
Pedro desceu do ônibus para ver se encontrava o seu melhor amigo. Ao caminhar pela calçada, vê que as pessoas que estavam no ônibus foram espalhando-se pouco a pouco.
- Meu Deus, onde estará Bruno? Será que ele se esqueceu de mim?
Foi procurar seu amigo. Depois de um longo tempo de procura, parou em um mercadinho para perguntar onde estava realmente.
- Em Luziânia, meu jovem. Porque?
Espantou-se:
- Não! Não pode ser! O que é que eu vou fazer agora! Como vou voltar?!
- Acalme-se, homem. Eu não sei como mandá-lo de volta, seja lá de onde você veio...
- Ah! Que ótimo... - Interrompeu Pedro.
- Deixa eu terminar! Tenho certeza que as pessoas daqui conhecem o caminho de volta para sua cidade, ou casa. A única opção é andar por aí atrás de informações.
- Obrigado!
- De nada. Boa sorte! Se precisar de ajuda, estarei aqui todos os dias.
Então, Pedro foi "conhecer" a cidade. É um lugar simples, calmo, pequenas casas, algumas maiores, outras enormes, povo simples. Um lugar tranquilo.
Olhou no relógio e já eram dez horas da noite. Ele lembra que chegou na cidade às sete. Já são três horas atrás de informações que o ajudem a voltar para casa e até agora, não conseguiu nada além de um simples "Não sei".Como já estava tarde, foi procurar um lugar para dormir. Não havia um hotel ou casa que oferecesse abrigo por apenas uma noite. A única opção foi dormir em uma praça no centro da cidade. E foi lá o lugar em que passou a noite.
No dia seguinte, acorda cedo, espreguiça-se e arruma a roupa. Ao passar a mão pela calça, notou um envelope: Era um convite. Estava escrito: "Você está convidado para a minha festa de 15 anos! De: Carolinne Para: Pedro."
- Como eu pude esquecer!! Preciso estar de volta ao Gama ainda hoje, senão ela poderá nunca mais falar comigo! - Exclamou Pedro.
Sacudiu a poeira da roupa e foi atrás de alguém que soubesse para onde fica sua cidade e como chegar lá. Ao chegar perto de uma barbearia, notou um rapaz com a camisa do time de futebol do Gama. Pedro foi até ele.
- Com licença, moço, o senhor conhece o Gama?
- Se conheço? Moro e nasci lá. Porque?
- É que eu dormi demais no ônibus e acabei parando aqui.
- Nossa! Você está bem?
- Na verdade não. Preciso ir para casa! - Começou a chorar desesperadamente.
- Acalme-se, menino. Acho que posso levá-lo de volta.
- Mesmo?
- Sim, mas antes preciso pegar meu caminhão que está na oficina.
- E quando isso acontecerá?
- Amanhã.
- Não poderia ser hoje? Sem querer incomodar, tenho alguns compromissos.
- Você quer voltar para casa amanhã ou ficar aqui?
Pensou: Vou perder a festa, mas volto para casa.
- Quero voltar para casa. - Responder rapidamente.
- Então me encontre aqui amanhã, nesta mesma hora.
- Sim! Muito obrigado, moço!
- Não se esqueça: Amanhã!
-Moço?
- Sim?
- Qual é seu nome?
- Carlos.
- E que horas são?
- Dez e meia.
Pedro ficou esperando ansiosamente a volta para casa, mas não podia ficar parado no mesmo lugar o dia inteiro. Então, foi passear pela tranquila cidade, já que seu problema estava resolvido.
Passa por um lugar escuro, que arrepia o próprio Pedro. Percebe que as pessoas neste lugar estão com uma cara fechada, triste e aparentemente irritadas.
Para garantir o sucesso de sua volta, Pedro foi a um grupo de pessoas que estavam sentadas na calçada:
- Oi. Estou perdido. Vocês sabem para onde fica o Gama?
- Não sei não. Saia daqui, menino! Antes que ele chegue.
- Ele quem?
- Menino teimoso. Sai daqui!!!
Derrepente, uma multidão de pessoas saem correndo e gritando para todos os lados dizendo:
- É ele! Ele chegou! Corram!!!
- E... ele quem? Quem?
- O Cobra. O bandido mais perigoso dessa parte. Ele perdeu alguns amigos durante uma troca de tiros com a polícia e agora está se vingando!!! - Fala desesperadamente uma mulher.
Tiros são ouvidos.
Pedro correu para o mais longe possível e correu com tanta força, que depois de ficar bem distante do lugar, sentou-se e não conseguia mais andar. Ali ficou, ali permaneceu o dia todo, ali dormiu. Em um beco escuro, o que é muito melhor do que ficar na mira de balas perdidas.
No dia seguinte, caminha para a barbearia. O rapaz do caminhão não está lá. Então, caminha para a oficina e então vê um caminhão saindo.
- Anda menino! Venha, estou de saída!
Pedro entra no caminhão.
Finalmente indo para casa, hein?
- Sim, estou doido para ver meus pais que a essa hora, devem estar preocupadíssimos comigo.
- Daqui a mais ou menos uma hora, você estará chegando em casa.
Pelo caminho vieram conversando e Pedro contou tudo desde o início para Carlos, o rapaz do caminhão. Por coincidência, Carlos se parecia muito com Pedro e não morava muito longe dele.
Finalmente, depois de uma hora, chegou à sua cidade.
- Não... Não... Acredito que cheguei!
- Se não estiver acreditado, te levo de volta para passar tudo o que passou outra vez.
- Não Não! Já acreditei!
Carlos caiu na gargalhada.
- Bom, te levo em casa. Onde mora?
- Ali atrás daquele comércio. Segunda casa á direita.
Foram até lá.
- Chegamos.
- Olha, Carlos, eu não tenho palavras para agradecer.
- Não precisa.Ver você de volta para casa já me deixa satisfeito.
- Tchau. Obrigado!!!
- Tchau!
Antes de abrir o portão, foi recebido pela família inteira, inclusive por Bruno.
Todos o abraçaram como se ele tivesse saído à anos.
- Nossa, filho...Você está bem?
- Estou, mãe, na verdade, um pouco cansado.
- Ei Pedro!! Que bom que voltou, cara! Antes de tudo, eu queria pedir desculpas. Se eu não tivesse agido com ignorância, vocês estaria de volta muito antes.
- Que é isso, Bruno. A culpa não foi sua. Você sabe como sou dorminhoco.
- É.
- Não precisava concordar tão rápido.
- Olha Pedro, sabe aquela festa da Carolinne?
Interrompeu Pedro:
- Sei...sei... Acho que ela nunca mais vai falar comigo.
- Deixa eu terminar! Ela foi cancelada. Será no próximo fim de semana.
- Sério? Nossa, que legal!!! Ainda bem, senão nem sei o que aconteceria comigo.
- Bem deixa eu ir, Bruno.Estou cansado.
- Para onde? O que vai fazer em vez de comemorar conosco?
- Dormir.

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